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Mostrando postagens de 2014

Por que precisamos de um “Ano Novo”?

Por sermos humanos, na mesma proporção que criamos problemas, criamos sentidos e memórias. O tempo, em sua dimensão cíclica, não precisa necessariamente do homem para vir-a-ser. Mas nós, de maneira indelével, nos incrustamos em suas indiferentes entranhas e lhe doamos valor simbólico, suprassensível,  afetivo, morfológico, humano... A partir daí se abre (para além da subsistência cotidiana) essa necessidade  de restabelecer nossas vivências, de revigorar acintosamente nossas percepções e perspectivas de futuro, que se destilam num emaranhado de alegrias, tristezas, encontros, confrontos, embates, frustrações, conquistas, abraços, derrotas... Dizem que há tempos perdidos. Dizem que há tempos aflitos. Dizem que há tempos contritos. Dizem que há tempos restritos. Mais como distinguir, separar, ordenar e superar isso logicamente, sem perder a dimensão do sagrado, da esperança e, (de modo mais urgente ainda) do encantamento diante da vida? Para isso pre

Sobre as contradições do vinho

Sentiram o vinho entrecortando seus corpos Hálito leve, úmido, indelével, indecifrável Desejos apócrifos, mais nitidamente apostos Entre um olhar e outro, entremear solto Estavam prontos e certos já há algum tempo Mas não contavam com a lógica e o acerto Apenas com a imprecisão sólida do vinho E suas dimensões afetivas, fálicas, dionisíacas Sabiam dos perigos, das limitações imanentes Das combinações transcendentes e dilacerantes Por isso o desespero, a agonia, o desvelo, o vinho... E esse indigente, incontido e fiel desassossego Um pouco mais de vinho na taça e ardor nas mãos Havia muito mais sentido no toque e desespero da razão Mesmo assim não impediram, não contiveram o rito Prazer lânguido, insólito, mas não menos sagrado Mais que vinho: verdade, vontade, volúpia Renascentista e jovial presença, plena de excessos e mundos Assim demarcaram seu campo do possível Não haveria espaço para lamentações e culpas

Sobre a divisão do Brasil

Uma vereadora de Natal (RN) propôs que se divida o Brasil, sendo a parte dos estados que votaram com Dilma denominada “NOVA CUBA”. Por lógica simples e direta creio que a outra parte, optante escolheu Aécio, deve ser denominada de “NOVA BEVERLY HILLS”. Mas não podemos deixar de considerar, como exercício dialético, que existe uma parte considerável da população que não se enquadra dentro desse maniqueísmo esquizofrênico e que vai querer também estabelecer o seu espaço significativo e afetivo. Para essa parcela, que convive bem com a diversidade entre os povos e se sente privilegiada em ter uma pátria com tanta riqueza cultural, sobraria o caminho de fundar a “NOVA AEON”. Uma espécie de “Quilombo Maluco Beleza”.

A fragmentação político-partidária e a formação dos governos no Brasil

A análise conjuntural do processo político-partidário brasileiro, tendo como base o período pós regime militar, aponta para um visível crescimento da fragmentação partidária, com o surgimento de várias siglas que vão se agrupar em torno de interesses espúrios, desconectados do que direciona a práxis política, determinados pela busca de cargos e verbas públicas. Na eleição indireta de Tancredo Neves e - com sua morte - o consequente governo José Sarney, ainda não se delineou explicitamente o arranjo institucional e a dinâmica de multiplicação de partidos que vemos hoje; isso deu-se muito em virtude de ainda vigorar no imaginário político da época a polarização “ditadura x democracia”, que se convertia no fantasma do medo do retrocesso, que parecia ainda rondar a incipiente democracia brasileira que, mesmo ainda de modo cambaleante, estava sendo nesse momento retomada e restabelecida. Posteriormente, sobretudo a partir dos anos 90, esse imaginário de terror e medo do retorno aos “an

Alguém verá uma "VIRADA CULTURAL"?

Teremos uma verdadeira "VIRADA CULTURAL" na cidade quando, diariamente, nossas ruas, praças e parques forem tomados pelo fazer artístico. Quando pudermos habitar os espaços e prédios históricos (muitos vazios, depredados e abandonados) com nossa imaginação, cultura e arte. Quando as escolas introduzirem efetivamente a Arte  e as expressões culturais em sua prática de ensino, visando não apenas “formar” nossas crianças para “ mão-de-obra” e o consumo, mais para se constituírem em seres humanos plenos de imaginação e afetos. Quando todos os bairros tiverem pelo menos um Centro Cultural e a possibilidade de expressar sua radicalidade humana através da arte, e não apenas receberem  “injeções culturais” de outros. Quando o “disk-silêncio”  não for  o silêncio das nossas almas. Quando a violência simbólica do desinteresse, da omissão e da apatia pública não destruir diariamente nossas necessidades de expressão, nossos sonh

Uma farsante à direita

A Sra. Viviane Mosé afirmou em debate na Rádio CBN, de modo enfático e categórico, que os professores de Filosofia e História são os responsáveis pela violência dos jovens em manifestações. Vamos avaliar um pouco sobre a “profundidade” da sua reflexão. Para começar, essa Sra., não pode ser considerada - como auto se intitula midiaticamente - como "filósofa"; em termos de "filosofia" ela chega no máximo a um "miojo intelectual": não tem obra ou pensamento significativo prá receber tal denominação. É no máximo uma opininadora, uma "filodóxa"; na Grécia antiga certamente uma sofista. Ela se apropria de modo rasteiro e pragmático - além de midiático - do pensamento filosófico, repetindo chavões descontextualizados, adequando-os com seus objetivos medíocres e imediatistas, para se promover e virar uma pseudocelebridade do pensamento brasileiro e, com isso, ganhar alguns trocados ministrando palestras. É impressionante como a mídia constrói ídolos v

Angústia, Desespero e Desamparo no Existencialismo de Sartre

No ensaio “O Existencialismo é um Humanismo ” o filósofo Jean-Paul Sartre busca esclarecer e  fazer uma defesa - enfatizando seus principais pressupostos - de sua proposta existencialista exposta na obra “ O Ser e o Nada ”, que foi duramente atacada tanto pela ortodoxia cristã, como pelo fundamentalismo ateu-marxista. Os cristãos o acusam de - ao negar a essência divina como fundante do humano – promover uma visão gratuita, sórdida e angustiada da vida, esquecendo das belezas do viver, ou, em suas palavras, abandonando “o sorriso da criança”. Já os marxistas indicam que Sartre propõe uma espécie de “imobilismo do desespero” , onde o fechamento das possibilidades da ação solidária consolidaria uma filosofia de caráter contemplativo, de fundo burguês. Os dois lados, segundo Sartre, partilham da certeza de que o Existencialismo, por ter sido gerado tendo como base o subjetivismo Cartesiano, promove o isolacionismo humano, se configurando então como uma doutrina sem ética e que promoveria

Casagrande: a educação sob a Lei da Chibata

Casagrande, o pequeno aprendiz de Paulo Hartung, repete o modelo neofascista do mestre e amplia a dimensão de exclusão e de segregação social que vem marcando o Espírito Santo ao longo esses ano s. O pior disso tudo é que no ninho de cobras montado por ele, para continuar solapando os cofres do Estado com isenções milionárias para os Grandes Empresários e manter a maioria à margem das riquezas, é formado por partidos chamados de “esquerda” (PSB, PT, PC do B, entre outros), que outrora participavam e apoiavam as lutas dos trabalhadores, mas que agora estão preocupados em manter seus acordos espúrios e seus carguinhos comissionados; não deram um apoio sequer, uma notinha, nem uma mísera uma "curtida" para o movimento de lutas dos profissionais da educação capixaba, que pedem o mínimo possível: reposição das perdas salariais, democracia nas escolas e condições dignas de trabalho. O silêncio seletivo da “velha esquerda” desbotada (que vive apenas de uma forma sem conteúdo) e o

Cultura no ES: os cães em frente à Padaria

A visão de cultura da maioria dos gestores públicos no ES, começando pela Secretaria do Estado, é o que há de mais retrógrado, fisiológico e reacionário; é aquela percepção arcaica e coronelista de ajudar os "amiguinhos" em detrimento à construção de Políticas Públicas para a Cultura. Vide o problema com o Plano Municipal de Cultura de Vitória, que depois de quase dois anos de discussões com todos os setores afins, continua emperrada e travada, com o Prefeito tendo feito modificações bizarras que mutilaram e descaracterizam totalmente o Plano, que tem uma perspectiva avançada e transformadora social, em sintonia com as diretrizes do Sistema Nacional de Cultura (SNC), implantado em 2008, mas, que até hoje, a Capital do Estado não se interligou, perdendo verbas e diversas ações proporcionadas pela adesão ao SNC.  Nos municípios do interior do Estado então, o descaso e a incompetência seletiva são ainda mais contundentes. Só pra citar, como exemplo, municípios importantes

DT´s não enterram seus mortos

Dentro da categoria de educadores existe o professor de Designação Temporária, ou simplesmente o "DT". O professor DT é uma espécie de “não-ser” da educação. Governo do Estado do Espírito Santo - imoral e ilegalmente - com a cumplicidade do Sindicato (que faz vista grossa) e da Justiça (que nada vê) mantém esse tipo de contratação que possui, em seu cerne, um evidente resíduo escravocrata. Os professores DT´s representam cerca de 70% do total de professores da Rede Estadual de Ensino do Espírito Santo. Esse tipo de contratação só é permitida pela lei em casos extremos, em regime de máxima urgência e necessidade, mas o Governo do Espírito Santo faz da exceção uma norma, mesmo contrário a lei e a ética. Os professores DT´s estão sempre sujeitos à dispensa sumária e pior, sem os direitos legais estabelecidos pela Legislação Trabalhista brasileira; ou seja, o direito do DT é não ter direito. O professor DT vive sempre sobre constante pressão, sempre ameaçado por diretores, pe

Ode à Ressignificação dos dias

Creio que agora seja mais fácil reconhecer por onde passei. Deixo marcas indeléveis dos meus afetos; rastros claros, simétricos, sólidos, incisivos. (acompanhados de uma inquietude intransferível) Minha mente tenta se expandir até o limite de uma suposta capacidade de entendimento. (as teorias do conhecimento dizem pouco a respeito da minha humanidade) Meu corpo, se contrai em resposta; rebela-se com uma invejável consistência. E mesmo diante da sua previsível ausência, clama, questiona, refuta deblatera, agoniza, chora. Está a mercê de uma memória cravada no tempo. (e de um imensurável e indelével    espaço afetivo) Me frustro ao tentar dividir a coisa física de uma imune consciência essencial. (tenho sérias dificuldades   em me equilibrar cartesianamente). Imagens superpostas se entrelaçam em meio a uma lógica pouco clara e vagamente distinta. Minhas células se entrelaçam, (teimo em acreditar em sinapses) indiferentes a esta acidez de silício

Por que nos arrastamos em Claudia?

A morte brutal de Claudia Silva Ferreira nos arrasta para a cova rasa da mediocridade humana e da incapacidade política de resolvermos nossas mazelas sociais. Não foram apenas aqueles dois policiais que arrastaram Claudia cruelmente para a morte: foi todo um conjunto simbólico, social e político – consolidado historicamente com pedagogia e métodos elaborados - que determinou seu extermínio. O que a espetacularidade e a crueldade visível do fato desvela agora é que, neste país, quem nasce pobre e negro já se encontra no corredor da morte. É a gênese que ainda vigora na pseudodemocracia racial brasileira.   Como o de Claudia Silva Ferreira acontece - silenciosa e sorrateiramente - o extermínio de muitos outros brasileiros pobres e negros. Diariamente, comumente, cotidianamente, insistentemente, acintosamente, impunemente. O problema é que não percebemos. O problema é que este genocídio é transformado em números. O problema é que – como bem sabemos - números não tem nome nem face.