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Ode à Ressignificação dos dias

Creio que agora seja mais fácil

reconhecer por onde passei.
Deixo marcas indeléveis dos meus afetos;
rastros claros, simétricos, sólidos, incisivos.
(acompanhados de uma inquietude
intransferível)

Minha mente tenta se expandir

até o limite de uma suposta
capacidade de entendimento.
(as teorias do conhecimento

dizem pouco a respeito
da minha humanidade)
Meu corpo, se contrai em resposta;
rebela-se com uma invejável

consistência.
E mesmo diante da sua previsível ausência,

clama, questiona, refuta
deblatera, agoniza, chora.
Está a mercê de uma memória
cravada no tempo.
(e de um imensurável e indelével
   espaço afetivo)

Me frustro ao tentar dividir a coisa física

de uma imune consciência essencial.
(tenho sérias dificuldades
  em me equilibrar cartesianamente).

Imagens superpostas se entrelaçam

em meio a uma lógica pouco clara
e vagamente distinta.
Minhas células se entrelaçam,
(teimo em acreditar em sinapses)
indiferentes a esta acidez de
silício, choro e lágrimas.

O desejo supera a essencialidade consciente

e provoca o mais desenfreado dos movimentos.
Não pode ser ignorado, negligenciado,

diluído, apagado, aniquilado.

Tentar justificar seu extermínio

com o paradigma da inviabilidade,
seria admitir que a consciência da finitude
supera a desordem dos sentimentos.


E com isso poderíamos,

tranquilamente
enterrar todos os poetas;
e viveríamos, simplesmente,
a consagrar  templos,
números, lógicas,
máquinas...

Ainda me esforço,

(restam-me alguns segundos de sobriedade)
suplico, imploro, envio sinais, peço socorro.
Não consigo fazer emergir
algo “inconsciente”.
(acho que sou todo mundo)

Ouço o imperativo categórico dantesco:

- Perca todas as esperanças!

Deixai-me aqui, então,
neste solipsismo involuntário,
(sem a tua tonalidade afetiva movente)
a reinventar meus dias.




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