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Mostrando postagens de 2008

Berimbau 2 x O Acadêmico

Em maio último Antonio Dantas, coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ao tentar justificar o baixo conceito alcançado no ENADE, afirmou que isto é devido “ao baiano tem baixo Q.I”. Afirmou ainda categoricamente que “o berimbau é um instrumento prá quem tem poucos neurônios , pois possui somente uma corda .” A retórica empolada e cientificista de Dantas é um recurso largamente utilizado em nossos dias para justificar e explicar fatos e fenômenos em geral; e por força ideológica e midiática, ganha comumente contorno de verdade absoluta e inquestionável. A fala do Dr. Coordenador revela um ranço de pureza étnica vigente em nossa “elite”, que ainda determina os rumos do país e mantém firme nosso aviltante quadro de desigualdade e segregação social. O “especialista” é o maior porta voz e defensor da estrutura dominante. Mas o que mais pode estar na raiz desse discurso? Para tentar entender um pouco mais claramente essa questão, deixaremos de lado

O Senso Comum como instância de Poder

A Filosofia ao longo de sua história, institui-se como um saber superior visando indagar e elucidar a verdade absoluta, a essência primeira, ou ainda - ao se transvestir em epistemologia - dignificar possibilidades e limites para o conhecimento. Em sua busca essencialista, as teorias ou doutrinas filosóficas, elegeram como uma espécie de “lixo a ser removido” o que se determina como “senso comum” ou “opinião pública”. Afastada do ensino fundamental, a filosofia se vê agora obrigada a restabelecer um diálogo em que o discurso rebuscado e empolado, se determina como um obstáculo a ser transposto. O reconhecimento do universo do outro como digno e dignificante se apresenta agora como fundamental para se estabelecer uma relação e um encontro. Mas para isso faz-se necessário uma autorreflexão dos responsáveis pelo exercício filosófico para se situarem dentro do contexto próprio em que estão imersos, questionando a aura de “livre pensamento” em que está envolta a filosofia.    Tendo como

O que é isso, a "inclusão social"?

“O meu linguajar é nato Eu não estou falando grego...”. (Zeca Pagodinho) “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro...” (O Rappa) O Brasil é uma "nação", não resta dúvida. Temos hino, bandeira, língua pátria e um certo “orgulho nacional” que se hipertrofia principalmente durante o período da copa do mundo. A tão propagada miscigenação étnico-cultural que teria forjado essa nação, não conseguiu eliminar o que lhe é mais próprio: contradições, diferenças e conflitos. A construção da “identidade nacional” deu-se a fórceps. A hegemonia de um determinado modo de ser, da formação de uma ideologia e modelo de humanidade, não foi estabelecida - e continua sendo mantida - com tanta cordialidade e sensualidade como promulgam alguns. Aqui há conflito, guerra, resistência, luta, "pólemos" - como diriam os antigos gregos.. Na ocupação portuguesa e embate com os povos que habitavam esta Pindorama, já se estabeleceu o modus operandi próprio do dominador, que perpassara

O Filosofar como ética da resistência

O Filosofar como ética da resistência “Uma parte de mim é todo mundo Outra parte é ninguém, fundo sem fundo Uma parte de mim é multidão Outra parte estranheza e solidão Uma parte de mim pesa e pondera Outra parte delira.” ( Ferreira Gular, em “Traduzir-se” ) Escrevo sobre a questão levantada constantemente em salas de aula, seminários e grupos de discussão na internet, sobre a da possibilidade ou não da filosofia para crianças. Temos como conseqüência disto duas perguntas diretrizes, a saber: primeiro se é possível ensinar filosofia para os jovens – incluo correlatamente a esta ás categorias de “criança”, “infantil”, “infanto-juvenil”, “adolescente” e “aborrecente”. A segunda pergunta é que - em sendo possível - qual a metodologia correta a ser aplicada. Essas duas questões apontam então para uma “pedagogia”, sendo assim, temos que fazer um mínimo de exercício para lançarmos alguma luz de como se constitui a pedagogia em nossa historicidade. Podemos inferir que a pedagogia como a temos

Modelo de carta de renúncia para pessoas dignas

Senhores Diretores, A título de introdução peço licença para expor algumas considerações, como tentativa de possibilitar alguma reflexão e entendimento. Quando se reúne em torno de desejos e ideias, instituindo-se um grupo, está se configurando um “encontro”. Todo encontro pressupõe uma ética, ou seja, um reconhecer e dar dignidade ao “outro” que se configura – no meu modo de ver - de três formas: interesse, escuta e cuidado. Toda ética exige para sua fundamentação, uma compreensão prévia para que se possa instituir uma práxis voltada para o bem comum, ou seja, para dignificação do homem naquilo que reflete mais radicalmente o que chamamos de humanidade, que se constitui a partir das suas possibilidades de escolha e significação de mundo. Daí temos “inclusão” não como dádiva, esmola, doação ou caridade, mas como abertura de possibilidade da liberdade humana, do cidadão autonomamente poder determinar - na diversidade que o constitui culturalmente – suas escolhas com condições dignas