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Mostrando postagens de 2011

L`Ode Triomphale: a transvaloração da Tekne

Existem espetáculos que nos agradam e outros que nos fazem transcender; esse último é o caso de L´Ode Triomphale, apresentado no Festival de Teatro Cidade de Vitória. Tendo como suporte verbal a poética de Fernando Pessoa, o grupo Theatre D´Or constrói uma proposta insólita que com seu impacto provoca uma reflexão sobre a contemporaneidade tecnológica e o humano que emerge dentro das necessidades, conformações e deformações impostas por essa relação. O espetáculo, desenvolvido a partir de uma proposta minimalista e intimista, mostra o caráter de resistência e reconstituição do homem num mundo de condicionamentos tecnológicos. O corpo reclama seu movimento, seu imaginário, sua força, seu erotismo. A palavra exige sua pré-existência carnal. A percepção reconstrói seus sentidos afetivos. O humano reedifica sua humanidade. O jogar com os objetos e o brincar com a matéria bruta industrializada e suas possibilidades sonoras, visuais e táteis - com a seriedade existencial que decorre pel

Um arquiteto da barbárie

A percepção demasiada humana dos devotos da procissão marítima de São Pedro deste ano captou - com maior sensibilidade e profundidade - aquilo que o desenho no papel já anunciava: o Cais das Artes é um monstrengo alienígena invadindo a Baía de Vitória. A dispepsia estética gerada na comunidade de pescadores - desabrigados agora de sua paisagem afetiva – é algo que merece pelo menos ser refletido. Os arquitetos ditos modernos - linha de filiação de Paulo Mendes da Rocha - carregam no bolso com devoção inabalável uma lente Niemeyertiana : enxergam um Planalto Central vazio em todo espaço a ser ocupado. Eles trazem em suas concepções colonizadoras aquela postura avassaladora e violenta de conceber estruturas que tem a obrigação de instaurar “um mundo novo”, no espaço pobre, inválido e inóspito onde são edificadas. A relação afetiva, a visão simbólica e adesão existencial do conjunto humano que interage com esse espaço não existem. Quando muito essas dimensões são avaliadas - pelo intelect

Genealogia de um Anacronismo

Transponho do papel manuscrito para o plasma um poema ainda em estado liquido. Instável, frágil e torto.    Ele não possui ainda a consistência esperada ao ser lançado à tela, onde ganhará uma forma e uma métrica impostas pelo suporte digital. Por outro lado possui -antes de ser digitado - um movimento, uma tensão, um frêmito pulsar dos dedos, que serão impossíveis de serem transladados para a tela. Será que ele ganha? Será que ele perde? Será que é indiferente? Tenho aqui um tema? Tenho aqui uma trama? Tenho aqui um trauma? Há um vigor do tema que dispara o poema, Um entrelaçamento de sentidos esboça a trama, que mais tarde se desenrola (ou muitas vezes enrola) em gestos rápidos e imprecisos; o corpo se emaranha no estorvo dos signos escritos para depois, quem sabe, se conformar, se reformar

A música mestiça de Jaceguay Lins

Há cerca de sete anos perdíamos a genialidade singular do grande músico, compositor, arranjador e poeta Jaceguay Lins. Mas precisamente no dia 17 de agosto de 2004. Seu sepultamento ocorreu no dia seguinte ao óbito, no cemitério de São Domingos, na Serra, numa tarde de quarta-feira ensolarada, tendo ao fundo o som dos tambores de Congo, executado por seus amigos mais próximos, que atendiam a um pedido do próprio Maestro. Natural da cidade Canhotinho, Pernambuco, Jaceguay Lins chegou por essas bandas no início da década de oitenta, vindo do Rio de Janeiro. Nesta época ele ministrava aulas no Instituto Vila-Lobos, mas havia sido “convidado” a se retirar por supostas atividades subversivas. E aqui no Espírito Santo “sentou praça” para estabelecer uma relação profunda e visceral com nossa cultura, fato que o coloca como uma das figuras mais contundentes das artes capixabas. Com um profundo conhecimento musical e vasta visão de mundo, desenvolveu trilhas para filmes e peças de teatro, a

A frágil palavra liberdade

Politico Ocupando a rua Fazendo carreata Pedindo votos É “festa da democracia”. Povo Ocupando a rua Fazendo passeata Pedindo direitos É “baderna desordeira”. Com quantas mentiras Se constrói uma “Liberdade de Imprensa”? Com quantos depósitos Se constrói uma “Liberdade de empresa” ?

Meninos da rua

Os meninos foram prá rua. Se indignaram, se mobilizaram, se encorajaram e nos chamaram. Reacenderam em nós aquela velha chama da luta. Nos mostraram que temos força e poder. Que coragem é um exercício de vida e não um dom. Os meninos foram prá rua. Eu e muitos outros que talvez tivessem até perdido a noção da liberdade e da capacidade de indignar-se, nos juntamos a eles. Erguemos nossos braços, gritamos palavras de ordem, trocamos olhares, nos demos às mãos, nos abraçamos, nos fizemos irmãos, nos sentimos nação. Irmãos de guerra, de batalha, de combate e de disposição. Mas sobretudo irmãos de afeto. Afetados que estávamos pela mesma indignação. Nos tornamos afetuosamente cúmplices. Os meninos foram prá rua. Enfrentaram armas, bombas morais e imorais, se expuseram, colocaram suas caras e seus corpos à mercê dos ataques da milícia armada . A milícia Governamental. A milícia oficial. A milícia paga. A milícia treinada. A milícia rude. A milícia covarde. Mas não houve medo e apatia. A cova

Casagrande ou Casamata?

O massacre de Barra do Riacho e o ataque violento aos estudantes nas ruas da Capital demonstram bem que a bomba de efeito imoral armada por Hartung explode agora no colo de Casagrande. O ex-governador deixou para o atual – com uma mídia não tão domesticada - o trabalho sujo de usar a força policial militar para reprimir as demandas sociais que ele ignorou em sua gestão. De modo impiedoso e truculento, digno dos piores facínoras e das mais cruéis ditaduras, os miseráveis e abandonados em Barra do Riacho - excluídos de qualquer resíduo de cidadania - foram massacrados e humilhados publicamente; e também, com o mesmo modus operandi, foi reprimida a manifestação legítima dos estudantes que lutam por cidadania, dignidade, acesso e respeito no sistema de transporte coletivo da Grande Vitória. Este esquema – que contou com inexplicável desativação do sistema Aquaviário - privilegia o lucro dos empresários em detrimento a dignidade e direitos da população. Quem tiver dúvida do caos e da

SINCADES: Genealogia de uma Imoralidade de Estado

O que me obriga a percorrer essas linhas é o esdrúxulo e imoral acordo deixado pela gestão Hartung com o prematuro – mas nem por isso pouco voraz - Instituto do Comércio Atacadista do Espírito Santo, o famigerado SINCADES, que é comandado pelo Sr. Idalberto Luiz Moro, figura que não me recordo de ter visto em qualquer discussão sobre política cultural do Estado nos últimos anos. O Sr. Moro costuma ofertar regularmente - para os colaboradores do seu agraciado Instituto - suculentas patuscadas regadas a fartas paellas, prato típico da culinária espanhola que, apesar de ser realmente muito saboroso, dependendo do manipulador, do montante investido e dos ingredientes utilizados, pode tornar-se muito dispendioso e indigesto, gerando efeitos desagradáveis e até mesmo, porque não dizer, humilhantes para quem por ventura se arvore a enfrentar e digerir o disparate gastronômico engendrado por tão insólita mistura. A arquitetura desse acordo que faz parte da herança maldita deixada por Hatung te

A Masmorra Cultural de Paulo Hartung

O ex-governador Hartung é um homem fechado; é um homem duro; em suma, é um homem de masmorras. E apesar de toda massificação propagandista feita - a expensas do erário público – para elevar sua figura ao estatuto de um estadista, creio que ele será lembrado no futuro por seu estilo masmorrento, que terá seu símbolo máximo com a edificação do “CAIS DAS ARTES”, um projeto personalista, faraônico e dispendioso que será erguido em detrimento às reais e urgentes necessidades da população e do fragilizado setor cultural do Espírito Santo. Hartung mantém viva a velha concepção centralizadora e onipotente que caracteriza a política oligárquica que muitos pensavam ultrapassada e enterrada. Ele - que no passado se arvorou como líder estudantil de esquerda - mostrou no decorrer desses últimos oito anos sua verdadeira e ortodoxa genealogia, fincada nos mais fiéis princípios do coronelismo. O que estamos identificando aqui, é que o famigerado caso das cadeias metálicas comparadas com masmorras med