Nos escritos de
“Pequena
História da Fotografia”
e “A
obra de Arte na era de sua reprodutibilidade técnica”
Walter Benjamim define que a dimensão “aurática”
de
um objeto seria reconhecida pela singularidade de sua aparição,
isto é, pelo
seu
caráter único, perpassado
por determinações relativas ao espaço e a temporalidade em que
está inserido.
Independente da proximidade física com o objeto ou obra de arte,
teria-se uma espécie de distância
ontológica conceitual determinada por uma propriedade de culto e
magia na qual estaria envolto.
Temos
nessa dimensão que
o objeto ou obra utilizada ritualisticamente
– primeiramente numa dimensão mágica e em seguida transmutando
para o religioso – só se manifesta e se determina por sua dimensão
aurática. Esse embricamento da aura com o fenômeno
do ritual, da perspectiva cultual religiosa, estará sempre
presente nos diferentes momentos históricos da humanidade. Mesmo na
pretensão racionalista iluminista, que disseminou
o “culto
ao belo”,
existe uma constituição da ordem do sagrado de adoração, devoção e
magia,
determinada radicalmente
pela
ideia
de “autenticidade”.
É
nesse momento, com o desenvolvimento das técnicas de reprodução -
mais precisamente da fotografia - é que a aura seria atingida
letalmente em sua primazia cultual. O advento da reprodução
fotográfica, paralelo à constituição do capitalismo industrial e
da produção serializada, vai definir novas modalidades de percepção
e dimensões espaçotemporais
que afetarão drasticamente
o domínio relacional aurático, determinado profundamente pela
constituição de uma espécie de região de segurança em torno de
um objeto único e mágico.
A fotografia rompe com os ditames da unicidade e explode o hermetismo conceitual aurático. A capacidade de reprodução e multiplicação de imagens, paisagens, objetos e pessoas fará eclodir novas formas e conteúdos significativos e relacionais. Nesse momento ocorre uma ruptura de distâncias e ângulos de visão, criam-se novas dinâmicas e novos modos de percepção. Nas palavras de Benjamim:
A fotografia rompe com os ditames da unicidade e explode o hermetismo conceitual aurático. A capacidade de reprodução e multiplicação de imagens, paisagens, objetos e pessoas fará eclodir novas formas e conteúdos significativos e relacionais. Nesse momento ocorre uma ruptura de distâncias e ângulos de visão, criam-se novas dinâmicas e novos modos de percepção. Nas palavras de Benjamim:
“...
a fotografia revela esse inconsciente ótico,
como
só a psicanálise revela o inconsciente pulsional”.
É
nesse
aspecto que se
tem
o que ele caracteriza como “o
declínio da aura”.
Segundo observações de Benjamim em relação as técnicas que
antecederam a fotografia, a reprodução executada com o auxílio do
aparelho técnico possui superioridade em relação a sua
correspondente manual - citando como exemplo a xilogravura e a
litografia - pois aquela tem maior autonomia em relação à última.
Além disso, vai possibilitar a ampliação do campo visual e perceptivo ao trazer novas possibilidades de vermos e nos relacionarmos com o objeto. A reprodução fotográfica “retira” esse objeto do seu local de origem e “transporta” para outros ambientes, quebrando seu aspecto de inacessibilidade e estranhamento, tornando-o familiar ou, em certos aspectos, vulgar. A fotografia, com seu dimensão “multiplicadora”, de certa forma destrói o lugar originário e a unicidade da obra e, consequentemente, provoca o enfraquecimento da sua aura.
Além disso, vai possibilitar a ampliação do campo visual e perceptivo ao trazer novas possibilidades de vermos e nos relacionarmos com o objeto. A reprodução fotográfica “retira” esse objeto do seu local de origem e “transporta” para outros ambientes, quebrando seu aspecto de inacessibilidade e estranhamento, tornando-o familiar ou, em certos aspectos, vulgar. A fotografia, com seu dimensão “multiplicadora”, de certa forma destrói o lugar originário e a unicidade da obra e, consequentemente, provoca o enfraquecimento da sua aura.
Benjamim
coloca que há nos primórdios do movimento fotográfico, uma
tentativa de “... condicionamento
técnico do fenômeno
aurático”.
Isto se daria principalmente pela criação nos estúdios, através
de recursos técnicos, de ambientes idílicos e idealizados, com
árvores, névoas e paisagens artificiais, pretensão que segundo ele
foi fracassada. A possibilidade de uma recuperação da aura na
fotografia só seria alcançado no movimento surrealista,
especialmente no
trabalho desenvolvido pelo fotógrafo Artget.
Um outro fenômeno relevante, causado pelo surgimento da fotografia, foi a tensão gerada com a obra de arte. A fotografia foi vista inicialmente como uma atividade que iria “roubar” o lugar da pintura. Esse conflito inicial, na verdade, obrigou aos artistas buscarem novas formas de expressão e utilização das técnicas de pintura, dando origem a novas escolas e estilos. Apesar de no início alguns artistas se utilizarem da fotografia para produzir seus trabalhos, especialmente na reprodução pictórica de paisagens.
Um outro fenômeno relevante, causado pelo surgimento da fotografia, foi a tensão gerada com a obra de arte. A fotografia foi vista inicialmente como uma atividade que iria “roubar” o lugar da pintura. Esse conflito inicial, na verdade, obrigou aos artistas buscarem novas formas de expressão e utilização das técnicas de pintura, dando origem a novas escolas e estilos. Apesar de no início alguns artistas se utilizarem da fotografia para produzir seus trabalhos, especialmente na reprodução pictórica de paisagens.
Com
o cinema o fenômeno
da reprodutibilidade
ganha dimensões nunca antes pensadas. A arte cinematográfica nasce
fundada na obrigatoriedade da reprodução, pois os custos de
produção de um filme só podem ser garantidos com geração e
comercialização de cópias dentro de um sistema de venda
preestabelecido.
Isso caracteriza o cinema como uma
atividade artística que nasceu intrinsecamente
sob a égide do modelo capitalista. Produção, reprodução
serializada e comercialização em larga escala são aspectos
indissociáveis de sua constituição.
Aqui coloca-se antagonicamente às dimensões de “valor de culto” e “valor de exposição”. Antes do advento da reprodutibilidade a obra ou imagem estava a serviço do culto, da magia, envolta numa dimensão aurática, com uma essência fundante que subsistia independente de sua possibilidade de ser vista. Aqui o hermetismo é quase que necessário e só mais tarde este objeto viria a ganhar estatuto de "obra de arte". No fenômeno cinematográfico o valor de exposição vem em primeiro plano e desencadeia uma série de novidades e concepções que, na época de seu surgimento, ainda não estavam devidamente identificadas.
Aqui coloca-se antagonicamente às dimensões de “valor de culto” e “valor de exposição”. Antes do advento da reprodutibilidade a obra ou imagem estava a serviço do culto, da magia, envolta numa dimensão aurática, com uma essência fundante que subsistia independente de sua possibilidade de ser vista. Aqui o hermetismo é quase que necessário e só mais tarde este objeto viria a ganhar estatuto de "obra de arte". No fenômeno cinematográfico o valor de exposição vem em primeiro plano e desencadeia uma série de novidades e concepções que, na época de seu surgimento, ainda não estavam devidamente identificadas.
Mas
mesmo tendo uma filiação capitalista de reprodução serializada o
cinema conseguiu estabelecer e constituir, do seu modo próprio, sua
dimensão aurática atualizando um processo de significação que
transcende a dimensão espaço-temporal e também se constituindo
como instrumento de vinculação de ideias políticas no contexto
histórico da humanidade e das suas construções socioculturais. No cinema
temos, de algum modo, a recuperação e restauração de um tempo e
espaço perdidos.
Comentários