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Ode à montanha

Sem pedir licença,
tomo de empréstimo sua concreta

beleza em essência
para transformá-la na discreta
essência de um poema.

Não é preciso muito
tempo para perceber.
Não é preciso muito
tempo para consagrar.
(Difícil é escalar essas insólitas alturas)

Há beleza em toda sua
fêmea unimultiplicidade:
menina, moça, filha, mãe,
guerreira, mulher;
em todos os tempos e sentidos,
com todas as dimensões e formas métricas,
tétricas, herméticas, védicas e assindéticas,
que em você não se perdem, transcendem.

Alterações imanentes,
revoluções permanentes de quem busca,
(com altivez, coragem e atitude)
o novo, o incerto, o desafiador,
o procriador.

Habita em suas rochosas entranhas
uma necessidade intrínseca
de ruptura e ressignificação;
um gozo supremo da alma
que se materializa
em seus vigorantes olhos,
em seus contundentes gestos,
em seus transfigurantes passos.
em seus desconcertantes braços.

Apesar de não nos tocarmos em pele,
apesar de não nos reconhecermos em tato,
nos afagamos nessa inquietação existencial
que busca vida, sonhos, afetos e desejos
nos mais incômodos olhares,
nos mais desvalidos lugares.

Diante dessa perspectiva me curvo:
beleza ardente e sutil,
fortaleza forte e selvagem,
paradoxo gaia/caos.

Comentários

Unknown disse…
Adorei o texto, Fraga! E consegue ainda escrever nesta correria toda da vida? Imagina se fosse um homem com tempo sobrando!...beijo

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