Há muito se tenta entender a pintura a partir de apriorismos psicológicos ou teorias contemplativas e se esquece do corpo. Não se considera como constituinte a radicalidade selvagem da carne humana, que se entrega num jogo de contração e distração ao se lançar no abismo da criação, emprestando sua dimensão perceptiva e seus movimentos vicerais ao desvelar-se da obra. Mas aqui o nascimento da obra como tal, também é sempre um re-nascimento do homem, um sempre buscar-se e reapresentar-se ao mundo. Existe no ato de quem pinta um tocar e ser tocado e também, paralelamente, um sentir e ser sentido. Aqui a divisão epistemológica moderna - do “sujeito” que compõe e do “objeto” que é composto - não vigora.
Se o artista constitui algo para se olhar, não tem como evitar que - numa ampliação de perspectiva - também é olhado por ela. Se o homem se faz na obra e correlatamente a obra está inundada por suas “essências”, não podemos deixar de considerar sua corporeidade. E encontramos essa contundência significativa da carne, do humano onde ele mais humanamente é homem, no fazer e refazer-se de Gilbert Chaudanne através de sua pintura.
Em suas obras os elementos de cor, luz, espaço, profundidade, etc., não são um algo “em-si” que se juntam logicamente; e menos ainda objetos ou assertivas cientificas que, equacionados e dominados, estarão disponíveis para atender prontamente ao poder instrumental do homem; também não são frutos de uma organização racional que obedecem a uma suposta metodologia. Eles se constituem como entes imagéticos que se apresentam para brincar e desafiar o artista.
E Chaudanne brinca, desperta e aceita o desafio, restituindo-se e revigorando-se. Esse interesse dirigente do corpo contra a tela - levando a tinta camada a camada, gesto a gesto – numa dança que mais tarde se constitui em “obra”, trás também alegrias e dores, fatos e sentimentos, indagações e contradições que foram registradas ao longo do tempo por esse corpo efeitual. Esta dimensão determina a dinâmica de retribuição e ampliação do sentido da vida que comanda o fazer de todo artista.
Podemos inferir que, nessa perspectiva, o sentido originário do termo “entusiasmo” nos legado pelos gregos – ter um Deus dentro de si – é a própria vigência do ato criador. Se nos constituímos pela imaginação e pela admiração diante do mundo, ela só nos é revelada quando vemos as coisas e nos interessamos por elas, quando nosso corpo é despertado para se apresentar e constituir-se criativamente através dessa relação.
O artista busca a técnica como a criança o brinquedo: para quebrá-la e remontá-la como novidade afetiva. Assim como na criança não acreditamos haver uma estrutura pré-operatória que dispara um “motor criativo” – como determina a epistemologia moderna - também no artista vigora essa exigência da carne, do movimento de aproximação, do interesse mútuo para algo que ele ainda não determinou e que está ainda para além de um esquema interpretativo, mas que só pode realizar-se dentro dessa ordinária mundaneidade. É claro que tanto na criança como no artista existe um visar; mas é uma visão sagrada e devoradora, que se constitui para além dos meros fatos visuais e que se amplia no contato, envolto por um turbilhão de volúpias, suores, desejos, narcisismos e gestos; estamos aqui perpassados pela vigência afetiva corpórea, que anseia significativamente sua aderência ao mundo.
Ao toque mágico do imaginário e desse fenômeno de espanto diante do mundo, o artista sente e desperta; e assim como ele, também outros corpos serão afetados e despertados no contato com sua obra. Se o acontecer chaudanniano, seu vigor, despertar e perguntar constante, se perfaz e se apresenta renovadamente em suas Madonas, e se ainda mais originariamente, ele amplia através delas sua corporeidade - embebida de afetos, mitos, gestuais, movimentos e uma tonalidade afetiva pulsional - eu também por elas sou tocado. Através disso eu também sou lançado para a espacialidade afetiva do corpo, que eclode metafisicamente num universo de múltiplas significações.
Diante das obras de Chaudanne as categorias que classicamente temos se misturam para ampliar esse espaço afetivo e significativo do corpo relacional: eu vejo e sou visto, toco e sou tocado. Será então necessário suspendermos as indicações dos manuais de psicologia e das metodologias cognitivas, ampliando o horizonte perceptivo, para sermos afetados, impactados e humanizados pela irracionalidade constitutiva da metafísica do corpo chaudanniano.
Se o artista constitui algo para se olhar, não tem como evitar que - numa ampliação de perspectiva - também é olhado por ela. Se o homem se faz na obra e correlatamente a obra está inundada por suas “essências”, não podemos deixar de considerar sua corporeidade. E encontramos essa contundência significativa da carne, do humano onde ele mais humanamente é homem, no fazer e refazer-se de Gilbert Chaudanne através de sua pintura.
Em suas obras os elementos de cor, luz, espaço, profundidade, etc., não são um algo “em-si” que se juntam logicamente; e menos ainda objetos ou assertivas cientificas que, equacionados e dominados, estarão disponíveis para atender prontamente ao poder instrumental do homem; também não são frutos de uma organização racional que obedecem a uma suposta metodologia. Eles se constituem como entes imagéticos que se apresentam para brincar e desafiar o artista.
E Chaudanne brinca, desperta e aceita o desafio, restituindo-se e revigorando-se. Esse interesse dirigente do corpo contra a tela - levando a tinta camada a camada, gesto a gesto – numa dança que mais tarde se constitui em “obra”, trás também alegrias e dores, fatos e sentimentos, indagações e contradições que foram registradas ao longo do tempo por esse corpo efeitual. Esta dimensão determina a dinâmica de retribuição e ampliação do sentido da vida que comanda o fazer de todo artista.
Podemos inferir que, nessa perspectiva, o sentido originário do termo “entusiasmo” nos legado pelos gregos – ter um Deus dentro de si – é a própria vigência do ato criador. Se nos constituímos pela imaginação e pela admiração diante do mundo, ela só nos é revelada quando vemos as coisas e nos interessamos por elas, quando nosso corpo é despertado para se apresentar e constituir-se criativamente através dessa relação.
O artista busca a técnica como a criança o brinquedo: para quebrá-la e remontá-la como novidade afetiva. Assim como na criança não acreditamos haver uma estrutura pré-operatória que dispara um “motor criativo” – como determina a epistemologia moderna - também no artista vigora essa exigência da carne, do movimento de aproximação, do interesse mútuo para algo que ele ainda não determinou e que está ainda para além de um esquema interpretativo, mas que só pode realizar-se dentro dessa ordinária mundaneidade. É claro que tanto na criança como no artista existe um visar; mas é uma visão sagrada e devoradora, que se constitui para além dos meros fatos visuais e que se amplia no contato, envolto por um turbilhão de volúpias, suores, desejos, narcisismos e gestos; estamos aqui perpassados pela vigência afetiva corpórea, que anseia significativamente sua aderência ao mundo.
Ao toque mágico do imaginário e desse fenômeno de espanto diante do mundo, o artista sente e desperta; e assim como ele, também outros corpos serão afetados e despertados no contato com sua obra. Se o acontecer chaudanniano, seu vigor, despertar e perguntar constante, se perfaz e se apresenta renovadamente em suas Madonas, e se ainda mais originariamente, ele amplia através delas sua corporeidade - embebida de afetos, mitos, gestuais, movimentos e uma tonalidade afetiva pulsional - eu também por elas sou tocado. Através disso eu também sou lançado para a espacialidade afetiva do corpo, que eclode metafisicamente num universo de múltiplas significações.
Diante das obras de Chaudanne as categorias que classicamente temos se misturam para ampliar esse espaço afetivo e significativo do corpo relacional: eu vejo e sou visto, toco e sou tocado. Será então necessário suspendermos as indicações dos manuais de psicologia e das metodologias cognitivas, ampliando o horizonte perceptivo, para sermos afetados, impactados e humanizados pela irracionalidade constitutiva da metafísica do corpo chaudanniano.
Comentários
Valeu, Fraga!!! beijo. Marilda.