O Filosofar como ética da resistência
“Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa e pondera
Outra parte delira.”
(Ferreira Gular, em “Traduzir-se” )
Escrevo sobre a questão levantada constantemente em salas de aula, seminários e grupos de discussão na internet, sobre a da possibilidade ou não da filosofia para crianças. Temos como conseqüência disto duas perguntas diretrizes, a saber: primeiro se é possível ensinar filosofia para os jovens – incluo correlatamente a esta ás categorias de “criança”, “infantil”, “infanto-juvenil”, “adolescente” e “aborrecente”.
A segunda pergunta é que - em sendo possível - qual a metodologia correta a ser aplicada. Essas duas questões apontam então para uma “pedagogia”, sendo assim, temos que fazer um mínimo de exercício para lançarmos alguma luz de como se constitui a pedagogia em nossa historicidade.
Podemos inferir que a pedagogia como a temos hoje, possui uma dupla filiação. De um lado deriva de um psicologismo infanto-juvenil, que pressupõe um humano sem dignidade e pobre de mundo. Esses humanos são adultos em miniatura, incompletos, desinformados, confusos e perdidos, que precisam receber formação e instrução para se constituírem como “sujeitos” ou “cidadãos do mundo”, principalmente do “mundo globalizado”.
Essa (de) formação segue, evidente, os ditames estabelecidos por uma visão adulta, ou seja, por pessoas inteligentes e bem resolvidas, que sabem distinta e claramente o que sabem e querem no mundo. Ou seja, o mundo e suas possibilidades já está dado de ante-mão.
De outro lado, a pedagogia está também fincada nas concepções morais vigentes, com toda sua carga de restrição e controle, além de uma hipertrofia da concepção de “sucesso” derivada da doutrina capitalista, do “ser alguém na vida”. Aqui temos como fundante um aspecto determinista que pretende uma educação literalmente “formativa”, ou seja, existe uma “forma”, uma idéia de adulto perfeita, que será régua e compasso na construção desse ideal de humanidade.
“Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa e pondera
Outra parte delira.”
(Ferreira Gular, em “Traduzir-se” )
Escrevo sobre a questão levantada constantemente em salas de aula, seminários e grupos de discussão na internet, sobre a da possibilidade ou não da filosofia para crianças. Temos como conseqüência disto duas perguntas diretrizes, a saber: primeiro se é possível ensinar filosofia para os jovens – incluo correlatamente a esta ás categorias de “criança”, “infantil”, “infanto-juvenil”, “adolescente” e “aborrecente”.
A segunda pergunta é que - em sendo possível - qual a metodologia correta a ser aplicada. Essas duas questões apontam então para uma “pedagogia”, sendo assim, temos que fazer um mínimo de exercício para lançarmos alguma luz de como se constitui a pedagogia em nossa historicidade.
Podemos inferir que a pedagogia como a temos hoje, possui uma dupla filiação. De um lado deriva de um psicologismo infanto-juvenil, que pressupõe um humano sem dignidade e pobre de mundo. Esses humanos são adultos em miniatura, incompletos, desinformados, confusos e perdidos, que precisam receber formação e instrução para se constituírem como “sujeitos” ou “cidadãos do mundo”, principalmente do “mundo globalizado”.
Essa (de) formação segue, evidente, os ditames estabelecidos por uma visão adulta, ou seja, por pessoas inteligentes e bem resolvidas, que sabem distinta e claramente o que sabem e querem no mundo. Ou seja, o mundo e suas possibilidades já está dado de ante-mão.
De outro lado, a pedagogia está também fincada nas concepções morais vigentes, com toda sua carga de restrição e controle, além de uma hipertrofia da concepção de “sucesso” derivada da doutrina capitalista, do “ser alguém na vida”. Aqui temos como fundante um aspecto determinista que pretende uma educação literalmente “formativa”, ou seja, existe uma “forma”, uma idéia de adulto perfeita, que será régua e compasso na construção desse ideal de humanidade.
Dentro desse contexto ou universo de significação, o filosofar de pode se colocar de três perspectivas distintas: a primeira será a de adesão, corroborando com a doutrina formativa Isto implicará na defesa e colaboração para manutenção do projeto de negação de dignidade do outro nessa relação. Uma segunda postura seria a de indiferença, ou - como diria Sartre - de má-fé. Isso indica uma condição que, de certa forma, não concorre pra o enfrentamento da situação. É o famoso e popular “tanto faz, como tanto fez”.
A terceira perspectiva é que temos como resistência. Aqui nasce uma condição de enfrentamento ao pragmatismo vigente que - ao contrário deste - deve pressupor como digno o universo significativo do “outro”, independente da categoria estabelecida pelo mundo adulto. Esse enfrentamento pressupõe paradoxalmente uma adesão ao “outro”, de da dignidade ao seu conjunto de significações. Ou seja, antes de “pensar” e “conceituar” temos que efetuar uma atitude de retornar e viver e, sobretudo, perceber a mundaneidade em sua radicalidade e originalidade.
Temos então como fundante a retomada do sentido de novidade do mundo, de seu perfazimento, de sua contingência e imediaticidade, evitando a pretensão de pré-determinação e domínio.
Na postura redutiva - mas não reducionista – temos imbricada uma ética, pois como já foi citado, implica um reconhecimento da dignidade do ”outro”, de merecedor de atenção e respeito, sem os quais não se pode estabelecer um diálogo, uma troca, um encontro. Aqui não pressupomos a anulação de um mundo para entrar no do “outro”, mas um encontro que permita reconhecer como próprio seu o horizonte de significação e, a partir disso, se estabeleça um jogo relacional.
Reconhecer limite não significa determinação de impossibilidade, mas sim o seu inverso, ou seja, instauração de um âmbito de possibilidades que emerge a partir da supressão de conceitualismos ou pré-determinações que queiram enquadrar o humano em esquemas e fórmulas a priori.
Temos então que, como colocado inicialmente, a pergunta da possibilidade ou não do filosofar para jovens - bem como de sua questão colateral de como seria isso feito - só cabe se aceitarmos o pressuposto de negação de dignidade do humano categorizado como “jovem”, “criança“, adolescente” , “aborrecente” - ou da forma como quiserem.
A pergunta em si está repleta de pré-conceitos”, ou seja, de recusa e de determinação do outro como inferior, incompleto ou estúpido. Assim como a matemática e música, por exemplo, também o filosofar é algo próprio do mundo da vida; e se, nesse âmbito exposto, estamos seguramente dentro dele, não existe impossibilidade para o filosofar
Comentários
no mais, excelente texto.