Pular para o conteúdo principal

Eleições 2018: a barbárie como pedagogia


Refletir sobre “Política” é obrigatoriamente pensar “Ética”, já demonstrava bem Aristóteles nos primórdios do pensamento da cultura ocidental. A Política, em sua visão originária, era a atividade que mais explicitava a dimensão racional e capacidade discursiva do ser humano que, socialmente organizado, buscava o bem comum da coletividade por meio do diálogo crítico e entendimento recíproco. O que assistimos hoje no Brasil passa bem longe da prática inaugurada e conceituada pelos gregos, mesmo tendo passado mais 25 séculos de história da chamada “Civilização Ocidental”.

O que temos hoje é um discurso e prática de ódio, violência, falsidades, mentiras, hipocrisia e manipulação, difundido sobretudo pelas "redes sociais", que está muito longe de ser vista como “atividade política”. “Evoluímos” como “sociedade” apenas do ponto de vista técnico-digital: do ponto de vista Ético, de modo dominante, nós brasileiros vivemos numa sociedade da intolerância, do ódio e da barbárie, que poderá nos levar a uma explosão de violência coletiva generalizada.

A mídia brasileira, que tem interesses econômicos e sociais bem definidos, é muito responsável pela degradação e miséria humana que nos assola: o consumismo, a violência e o fanatismo religioso são as bases dos seus ensinamentos diários; poderíamos denominar - sem nenhum exagero - esse conteúdo formativo execrável, do ponto de vista ético, de uma “pedagogia da barbárie”. Mas essa mídia, como naquela fábula do “aprendiz de feiticeiro”, criou algo que escapou do seu controle e que agora se volta também contra ela própria: vemos que essa visão neofascista, que ela ajudou a criar, não aceita nenhum tipo de diversidade de pensamento ou práticas humanas diferentes das suas “verdades”.

Nesse contexto, odioso e exclusivista, toda reflexão e criticidade é perseguida, combatida, satanizada. Todo conhecimento e prática questionadora das contradições e diversidade social, desenvolvido pelas chamadas Ciências Humanas, se tornaram “doutrinadores”; todos os professores dessas área se tornaram “agentes manipuladores”. Falar e refletir sobre respeito à individualidade e diversidade humana -  base dos conceitos de “Civilização”, ”Solidariedade” , “Cidadania” e “Ética” - deve ser proibido. A pedagogia proposta pela chamada “Escola sem Partido” tem sim um “partido”: o “Partido da Barbárie”.

Temos então um desafio maior para nós “seres humanos”, no sentido ético do conceito, nos unirmos e restaurar nossas energias para enfrentar, combater e barrar esse retorno a selvageria e degradação social, o que não demandará pouco esforço diante da insensibilidade e cegueira ética que vivenciamos. Lutemos, então, para salvar nossa “humanidade”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Angústia, Desespero e Desamparo no Existencialismo de Sartre

No ensaio “O Existencialismo é um Humanismo ” o filósofo Jean-Paul Sartre busca esclarecer e  fazer uma defesa - enfatizando seus principais pressupostos - de sua proposta existencialista exposta na obra “ O Ser e o Nada ”, que foi duramente atacada tanto pela ortodoxia cristã, como pelo fundamentalismo ateu-marxista. Os cristãos o acusam de - ao negar a essência divina como fundante do humano – promover uma visão gratuita, sórdida e angustiada da vida, esquecendo das belezas do viver, ou, em suas palavras, abandonando “o sorriso da criança”. Já os marxistas indicam que Sartre propõe uma espécie de “imobilismo do desespero” , onde o fechamento das possibilidades da ação solidária consolidaria uma filosofia de caráter contemplativo, de fundo burguês. Os dois lados, segundo Sartre, partilham da certeza de que o Existencialismo, por ter sido gerado tendo como base o subjetivismo Cartesiano, promove o isolacionismo humano, se configurando então como uma doutrina sem ética e que promoveria

Berimbau 2 x O Acadêmico

Em maio último Antonio Dantas, coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ao tentar justificar o baixo conceito alcançado no ENADE, afirmou que isto é devido “ao baiano tem baixo Q.I”. Afirmou ainda categoricamente que “o berimbau é um instrumento prá quem tem poucos neurônios , pois possui somente uma corda .” A retórica empolada e cientificista de Dantas é um recurso largamente utilizado em nossos dias para justificar e explicar fatos e fenômenos em geral; e por força ideológica e midiática, ganha comumente contorno de verdade absoluta e inquestionável. A fala do Dr. Coordenador revela um ranço de pureza étnica vigente em nossa “elite”, que ainda determina os rumos do país e mantém firme nosso aviltante quadro de desigualdade e segregação social. O “especialista” é o maior porta voz e defensor da estrutura dominante. Mas o que mais pode estar na raiz desse discurso? Para tentar entender um pouco mais claramente essa questão, deixaremos de lado

O que é isso, o Brincante?

Considera-se o artista Brincante como um legítimo representante da “cultura popular”. A separação entre “cultura” e “cultura popular” é algo que cristaliza vários preconceitos. Distingue a última como um tipo de “fazer” desprovido de um “saber”, ou uma coisa “velha”, fruto da “tradição”, resíduo de uma gente em extinção. O termo “cultura popular” direciona para o passado, para um espaço perdido, para uma ruína que ainda resiste diante do fim inexorável. Já o que designa “cultura” - em contraposição a sua designação como “popular” - aponta para um saber atualizado, abarrotado de conhecimento comprovado e necessário; nessa acepção estamos “antenados com o presente” e “preparados para o futuro”. Na maioria das vezes quando ouvimos dizer que “fulano tem muita cultura”, está se referindo a alguém que adquiriu títulos, escreveu livros ou possui notoriedade por sua “produção intelectual”. Não se trata aqui de uma “cultura qualquer” que se apreende ordinariamente no meio da rua. Esse “suj