A atual Diretoria da Unidos da Piedade continua – dentro do projeto de vingança pessoal do atual Presidente da agremiação - na contramão da história, da tradição, da memória, dos valores e dos símbolos culturais, não apenas da Cidade de Vitória, mas de todo Estado do Espírito Santo. Indiferente ao abissal fato de 2019 ser o ano em que Edson Papo-Furado completará 80 anos de vida, e mesmo diante de um abaixo-assinado solicitando ele como enredo da Escola, a atual Diretoria decretou que o tema que levaria a escola para a avenida seria sobre “felinos”.
Essa escolha tem requintes de crueldade, estupidez simbólica, frieza humana, ressentimento medíocre e descaso com a história e representatividade que Papo-Furado e seus companheiros da Piedade (Paru, Caroço, Mario Reboco, entre outros que já partiram) tem para a cultura Capixaba. Como se não bastasse as pífias, bisonhas e excludentes “políticas públicas culturais” que assolam e enterram vivos tantos artistas, temos ainda que conviver com a vaidade, mediocridade e autoritarismo de figuras alienígenas que se alojam e se acham proprietárias de uma expressão cultural popular, no caso a Unidos da Piedade, ignorando sua memória, símbolos e figuras relevantes, construções e dimensões significativas que fizeram e constituem sua história.
Em um ano onde a comunidade da Piedade sofreu com expulsões, violência e assassinatos generalizados de seus moradores, a diretoria da escola simplesmente joga no lixo a oportunidade de contribuir para revigorar e reanimar o orgulho e autoestima que também foram, de certa forma, alvejados por tantos acontecimentos tristes e cruéis até esse período. O enredo sobre “Papo-Furado”, além de uma homenagem mais do que merecida, certamente colocaria em evidência e traria com ele a história, memória, resistência, luta por reconhecimento e pertencimento social da comunidade da Piedade.
Para usar uma referência que está muito corrente hoje em dia, o que acontece aqui é um verdadeiro “Culturicídio”, ou seja, se mantém na esfera cultural a perversa lógica de isolamento, violência e extermínio da população negra levada a cabo pela elite branca brasileira. Edvaldo Teixeira é o capataz de plantão.
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