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Sobre o medo de ter coragem

Vemos pipocar pelos quatro cantos
várias opiniões pejorativas
a cerca do movimento pelas ruas.

Que não tem pauta
Que é desorganizado.
Que quer tudo e não quer nada.
Que já vimos esse discurso antes.
Que será distorcido.
Que é movimento de playboy.
Que a mídia capitalista vai manipular.
Que o ufanismo nacionalista de direita vai voltar.

Será que temos então
- em nome do medo -
que renunciar a coragem, a disposição e a convicção
de expor e discutir em praça pública
nossas mazelas sociais?

Será que temos então
- em nome do medo -
que deixar de lado a possibilidade
de estabelecer uma nova
perspectiva ética e política
para o nosso País?

Prefiro o erro da
participação
que a tranquilidade
da acomodação.

Posso não saber aonde
esse caminho vai dar,
mas sei que quero caminhar,
- sair desse lugar -
e pelo menos viver o sonho
de querer mudar.

De que serve
uma vida sem combate,
sem se arriscar
a fazer um risco
- ou mesmo um rabisco -
no desenho da história?

Por isso repito,
meu apego,
meu afeto,
meu apelo
pelas ruas.

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