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SINCADES: Um câncer na Cultura Capixaba


O câncer, como todos sabem, é uma anomalia traiçoeira, agressiva, devastadora, humilhante e cruel.  Nasce como uma célula do próprio corpo para, em dado momento, começar a se desenvolver gradativa e descontroladamente, para levar à morte a estrutura hospedeira. É dessa mesma forma que o Instituto do Sindicato dos Distribuidores para o Comércio Varejista SINCADES está agindo na estrutura cultural capixaba, com a subserviência e complacência de todos. O Espírito Santo é o único estado da Federação Brasileira que possui esse modelo de “gestão cultural” onde os recursos públicos são repassados de maneira direta para um organismo da iniciativa privada. De posse de vultosas quantias – vindas de isenção do ICMS -  o SINCADES determina vida e morte da produção cultural capixaba.

O plano diabólico de posse de recursos públicos e domínio da estrutura cultural capixaba foi planejado e executado na gestão Hartung. Para ele não bastava o domínio da mídia, do legislativo e do judiciário, precisava de algo mais significativo e perene para viabilizar seu projeto megalomaníaco de poder e consumar o Espirito Santo como o Hartunguinistão.  Para isso criou o tal “Contrato de Competividade” para repassar dinheiro público para seus amigos empresários e colocar os artistas capixabas em seu devido lugar: como bons e submissos lacaios.

Não podemos deixar de reconhecer a engenhosidade maquiavélica da Hartung ao dar essa rasteira homérica na classe artística capixaba; sou até capaz de ver a cena de Hartung gritando em frente ao espelho:  - Mamãe, eu sou um gênio! Mamãe, eu sou um gênio! A Bahia tinha “Toninho Malvadeza”, o Espírito Santo tem sua versão: “Paulinho Malvadeza”.

O SINCADES transformou a Secult num escritório de representação; quem quiser ver a cor laranja do dinheiro do Instituto Varejista tem que se sujeitar a estranhos rituais de passagem. Até mesmo a antes combativa Comissão Espirito-santense de Folclore não escapou dessa estrutura e, para executar seu “Festival da Diversidade Cultural", teve que se submeter e fazer um ebó a “Pai Ildaberto do Varejo”  para conseguir a abertura dos caminhos e dos cofres do SINCADES.

Até quando continuaremos submissos a essa estrutura cancerígena? Até quando continuaremos calados diante dessa imoralidade - instituída oficialmente - que degrada humilha e soterra sarcasticamente  nossas parcas possibilidades criativas?

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