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Mostrando postagens de 2009

Gilbert Chaudanne: o metafísico de essências carnais

Há muito se tenta entender a pintura a partir de apriorismos psicológicos ou teorias contemplativas e se esquece do corpo. Não se considera como constituinte a radicalidade selvagem da carne humana, que se entrega num jogo de contração e distração ao se lançar no abismo da criação, emprestando sua dimensão perceptiva e seus movimentos vicerais ao desvelar-se da obra. Mas aqui o nascimento da obra como tal, também é sempre um re-nascimento do homem, um sempre buscar-se e reapresentar-se ao mundo. Existe no ato de quem pinta um tocar e ser tocado e também, paralelamente, um sentir e ser sentido. Aqui a divisão epistemológica moderna - do “sujeito” que compõe e do “objeto” que é composto - não vigora. Se o artista constitui algo para se olhar, não tem como evitar que - numa ampliação de perspectiva - também é olhado por ela. Se o homem se faz na obra e correlatamente a obra está inundada por suas “essências”, não podemos deixar de considerar sua corporeidade. E encontramos essa contundênc

O Espírito de Circe

Na Odisséia grega, narrada por Homero, existe a ação de Circe, uma feiticeira poderosa e louca que aprisiona seus inimigos mais fortes e transforma os outros em porcos, que depois brigam entre si pelas migalhas jogadas como alimento. O páthos de Circe não aniquila, mas assola, causa desolamento; e aqui desolar é pior do que aniquilar; a desolação é o que institui o deserto e o desolamento e, mantendo o existente, acaba com a possibilidade de CRIAR e exclui a vigência da LIBERDADE. É isso que denomino aqui de “Espírito de Circe”, do qual está eivado o modus operandi do Governador do Estado do Espírito Santo, no que se refere, principalmente, ao tratamento e a consideração destinada aos artistas locais, tendo como exemplo mais contundente o estardalhaço midiático para o lançamento desse caquético “Edital da Cultura”, que considero degradante e vergonhoso diante da importância e dimensão econômica do nosso Estado no quadro nacional. O Governador atual - envolto em uma aura de ex-militante

O que é isso, o Brincante?

Considera-se o artista Brincante como um legítimo representante da “cultura popular”. A separação entre “cultura” e “cultura popular” é algo que cristaliza vários preconceitos. Distingue a última como um tipo de “fazer” desprovido de um “saber”, ou uma coisa “velha”, fruto da “tradição”, resíduo de uma gente em extinção. O termo “cultura popular” direciona para o passado, para um espaço perdido, para uma ruína que ainda resiste diante do fim inexorável. Já o que designa “cultura” - em contraposição a sua designação como “popular” - aponta para um saber atualizado, abarrotado de conhecimento comprovado e necessário; nessa acepção estamos “antenados com o presente” e “preparados para o futuro”. Na maioria das vezes quando ouvimos dizer que “fulano tem muita cultura”, está se referindo a alguém que adquiriu títulos, escreveu livros ou possui notoriedade por sua “produção intelectual”. Não se trata aqui de uma “cultura qualquer” que se apreende ordinariamente no meio da rua. Esse “suj