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Mostrando postagens de março, 2018

Ensaio sobre a pasteurização dos afetos

Chegamos ao tempo dos afetos pasteurizados. Acasos sonsos, omissos casos, descasos parcos, transações tristes, afagos fáceis, favoráveis, indiferentes, liquidados a perder de vista. Qualquer gesto será desmitificado, desqualificado, massificado enquanto tal; sem qualquer conotação verbal, apenas imediato contato casual. É mesmo necessário evitar-se a fala, nenhum sentido expresso, nenhum excesso de sentimento, nenhum impresso pertencimento. Falemos pouco, (ou quase nada mesmo) sejamos lacônicos, patéticos, distraídos, risonhos, fofos, risíveis... É mesmo necessário, (praticamente um imperativo ético) pasteurizar o riso, articulá-lo em seu vazio pleno, mumificá-lo em sua dimensão tetânica. Não há motivos para buscarmos profundidade em nossos encontros; já estamos vastos de nós mesmos, autossuficientes, autossustentáveis, autodeterminados, autocontrolados. Temos um império insípido e hipertrofiado dentro das nossas pequenas