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Mostrando postagens de novembro, 2013

Receita para se destruir um grande amor

Assim, meio de repente, (quase sem perceber) o olhar se tornou vazio, a palavra se tornou falsa, o riso se tornou frio, o desejo se tornou casto, o afeto se tornou vago. Mera aparência. Coincidência acidental de tantas meias verdades, de tantas mentiras inteiras. Até que se esforçaram, de alguma forma. O problema é que somente formas não sustentam afetos. É preciso núcleo, c onteúdo, curso, decurso, recurso. Formou-se assim, (dessa inconsistente massa) um enorme vazio, uma vivência alheia, uma presença fria, sem zelo, sem elo, sem halo, sem tato. Até que tentaram estabelecer alguma forma de contato; mas a falta de sentidos foi tanta que ficou mais visível ainda a efetividade da insensibilidade. O tempo, então, se tornou passatempo: horizonte insipido, inodoro, incolor. Cosmo carente de Eros. Homogeneidade cosmética. Se arrastaram numa desistência mútua. Mantiveram um arremedo de relação, sustentada apenas pela convenção social.